domingo, 13 de maio de 2018

CRÔNICA: AS MÃES ESTÃO EM TODOS OS LUGARES

Essa semana, ouvi um aluno proferir a seguinte pérola, para alguns talvez um exagero, para outros um simples recurso retórico: “Não sei como é que minha mãe descobre as coisas que eu faço, parece até que ela está em todos os lugares ao mesmo tempo”. Essa foi uma das tantas frases de sabedoria juvenil já ditas pelos meus alunos. Ocorreu-me no momento uma volta ao passado, há vinte anos para ser mais preciso.
Na missa de sétimo dia de falecimento de minha mãe, lembro-me de terem colocado um poema, que tinha como título: quando eu não mais existir, e pedia para procurarmos vestígios do ente querido em coisas simples da vida, como o perfume de uma flor ou um pôr do sol. Foi difícil para mim, aos treze anos, entender a real mensagem daquele poema, apesar de ter uma estranha sensação de que eu passaria o resto de minha vida colocando em prática o que esse poema pedia. Era um aviso do que eu deveria fazer daqui por diante.
Perder a mãe é terrível, mas o Criador sabe o que faz, Ele não explica o propósito, mas dá a oportunidade de entendermos, aos poucos, todo esse mistério chamado vida.

De lá para cá, durante todo esse tempo, de uma forma ou de outra, o amor materno sempre esteve ao meu lado, porque eu sentia a presença dela em coisas aparentemente banais, como varrer uma casa ou apagar uma luz; num abraço apertado, num afago, numa bronca, fazendo café, olhando para outras mães com seus filhos, no poema lindo de minha querida amiga Adeilma, num pôr de sol, deitado numa rede, enfim...  Além disso, ganhei tantas mães que fica até difícil de dar conta de tanto amor materno! Sou um privilegiado mesmo. O que antes eu achava que era um capricho do criador, acabei percebendo que isso era na verdade uma dádiva, uma oportunidade de olhar para as coisas mais simples e ver alguma qualidade, alguma coisa que me fizesse lembrar dela...
Enfim, quando o aluno falou aquela frase do início desse texto, percebeu que eu estava sorrindo. Ele perguntou o porquê, eu não respondi nada. Apenas concordava em pensamento: mais do que uma simples figura de linguagem, o que ele falou é a mais pura verdade, as mães realmente estão em todos os lugares!
Afinal de contas, com quem mais o Criador poderia compartilhar o dom da onipresença, onipotência e onisciência senão com as mães?

Por Erirobson Dantas