Essa semana, ouvi um aluno proferir a seguinte pérola, para alguns
talvez um exagero, para outros um simples recurso retórico: “Não sei como é que
minha mãe descobre as coisas que eu faço, parece até que ela está em todos os
lugares ao mesmo tempo”. Essa foi uma das tantas frases de sabedoria juvenil já
ditas pelos meus alunos. Ocorreu-me no momento uma volta ao passado, há vinte anos
para ser mais preciso.
Na missa de sétimo dia de falecimento de minha mãe, lembro-me de terem
colocado um poema, que tinha como título: quando eu não mais existir, e pedia
para procurarmos vestígios do ente querido em coisas simples da vida, como o perfume
de uma flor ou um pôr do sol. Foi difícil para mim, aos treze anos, entender a
real mensagem daquele poema, apesar de ter uma estranha sensação de que eu
passaria o resto de minha vida colocando em prática o que esse poema pedia. Era
um aviso do que eu deveria fazer daqui por diante.
Perder a mãe é terrível, mas o Criador sabe o que faz, Ele não explica
o propósito, mas dá a oportunidade de entendermos, aos poucos, todo esse
mistério chamado vida.
De lá para cá, durante todo esse tempo, de uma forma ou de outra, o
amor materno sempre esteve ao meu lado, porque eu sentia a presença dela em
coisas aparentemente banais, como varrer uma casa ou apagar uma luz; num abraço
apertado, num afago, numa bronca, fazendo café, olhando para outras mães com
seus filhos, no poema lindo de minha querida amiga Adeilma, num pôr de sol,
deitado numa rede, enfim... Além disso,
ganhei tantas mães que fica até difícil de dar conta de tanto amor materno! Sou
um privilegiado mesmo. O que antes eu achava que era um capricho do criador,
acabei percebendo que isso era na verdade uma dádiva, uma oportunidade de olhar
para as coisas mais simples e ver alguma qualidade, alguma coisa que me fizesse
lembrar dela...
Enfim, quando o aluno falou aquela frase do início desse texto, percebeu
que eu estava sorrindo. Ele perguntou o porquê, eu não respondi nada. Apenas
concordava em pensamento: mais do que uma simples figura de linguagem, o que
ele falou é a mais pura verdade, as mães realmente estão em todos os lugares!
Afinal de contas, com quem mais o Criador
poderia compartilhar o dom da onipresença, onipotência e onisciência senão com
as mães?
Por Erirobson Dantas