A região Nordeste enfrenta uma
das piores secas dos últimos 30 anos, que já afeta o abastecimento de água em
diversos Estados da região. A falta de chuva já se assemelha à enfrentada no
começo da década de 1980, quando milhões de pessoas também foram afetadas pela
seca.
Atualmente, 1.228 cidades
espalhadas em nove Estados já declararam situação de emergência. Isto
representa um total de 22% dos municípios do Brasil. Já chega a 9.746.982 o
número de pessoas afetadas pelas secas na região, ou seja, 5,1% da população do
Brasil.
Os Estados de Pernambuco e
Alagoas já adotam racionamento de água para conter os impactos da falta de
abastecimento dos reservatórios. Segundo o meteorologista Fabio Rocha, do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a situação não deve mudar nos
próximos meses.
— Ainda há condições
desfavoráveis para a chuva na região Nordeste. Exceto para o litoral, que deve
continuar nos próximos meses nas condições típicas da estação.
A temperatura fica acima do
normal pelos próximos meses, o que piora a sensação térmica. Pelo menos até
junho, segundo Rocha, não deve chover.
Em Pernambuco, alguns
reservatórios de abastecimento de água estão operando com 19% de sua
capacidade. O Estado enfrenta racionamento de água para evitar problemas futuros
de abastecimento.
Assim como o colega do Inpe, o
meteorologista Celso Oliveira, do Tempo Agora, projeta que o cenário vai
permanecer praticamente igual nos próximos meses. Ele alerta que a chuva
ocasional que deve cair sobre o Nordeste não será suficiente para encher as
represas da região.
— Pancadas de chuva não conseguem
reverter a situação atual. Isso porque, quando chove, a água é absorvida pelo
solo para alimentar o lençol freático, e, só depois, é que enche os
reservatórios. Precisaria chover muito para reverter esta situação.
Outro problema apontado pelo
meteorologista é o curto período de chuvas na região, que já está chegando ao
fim sem nenhum acúmulo significativo. Esta situação já se repete pelo terceiro
ano seguido, o que agrava a situação.
— A situação é dramática e, mesmo
que chova, vai continuar dramática. É um ou outro reservatório onde acaba
caindo uma chuva muito boa, enche, e ele aguenta. Mas isso tem sido exceção. A
regra, infelizmente, é o reservatório com baixo acúmulo de água.
Rio São Francisco
Os meteorologistas esperam que o
nível dos reservatórios chegue a até 70% do limite, mas só no litoral. No
interior da região, não deve passar dos 50%. Para solucionar esse problema, o
especialista do Inpe defende a transposição do rio São Francisco.
— São Pedro não vai vir. O clima
do Nordeste é assim, não tem jeito. A principal solução é a transposição do rio
São Francisco. As obras devem ser retomadas com mais velocidade.
No início de março, a presidente
Dilma Rousseff disse que as obras de transposição do Rio São Francisco serão
concluídas em 2015. Em 2014, porém, uma parte da interligação já será entregue.
Para o professor Ideval Souza
Costa, geólogo do Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo),
a transposição resolverá uma parte do problema. Ele ressalta, porém, que é
necessário investir em outras medidas para espalhar a distribuição de água por
mais regiões no curto prazo.
— Tem tanta tecnologia boa, [como
implantar] poços artesianos, recolher orvalho, colocar em cisternas, recolher
água de chuva. De maneira imediata, o que vejo é a construção de poços
artesianos e não a transposição do São Francisco, que demanda mais tempo e
dinheiro.
Parte das sugestões apontados por
Costa já consta do Programa Água Para Todos, do Ministério da Integração
Nacional. Os poços artesianos previstos para ser construídos dentro do
programa, por exemplo, dentro do programa, só são construídos em áreas
públicas, com o objetivo de evitar o uso com interesses pessoais.
Mesmo com todos os projetos, a
situação é crítica agora. Como um funcionário de uma empresa de abastecimento
da região que não quis se identificar comentou, “o negócio é rezar ao bom Deus
para mandar chuva”.
Do Blog do Robson Pires
Muito triste.
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