Leia a importante reportagem de Sara Vasconcelos, repórter do jornal TRIBUNA DO NORTE
Dor, desconforto, irritação, mudança de humor.
Estar “naqueles dias” não é fácil e, para algumas mulheres, chega a ser
insuportável. Se o mal-estar vai muito além dos sintomas da chamada TPM e
as cólicas são tão intensas que chegam a paralisar - você e sua rotina - fique
atenta: pode ser endometriose. A doença, ainda pouco conhecida, atinge 15% das
mulheres entre 15 e 45 anos e é comumente subestimada como “coisa de mulher”, o
que induz ao diagnóstico tardio e pode levar a infertilidade.
Levados pela ideia massificada de que sentir dor
durante a menstruação é “normal” faz da descoberta da doença um desafio não só
para os profissionais que cuidam da saúde da mulher, mas também para elas que
custam a buscar atendimento médico especializado. “Sempre ouvi que ‘quando
casar, sara’, então, recorria aos analgésicos e parava a minha vida durante
aqueles dias de tormento, porque era normal, me diziam”, lembra a secretária
Eliane Ferreira de Andrade Fagundes, de 40 anos.
A endometriose ocorre pela presença do endométrio
em locais fora do seu local de origem: a cavidade uterina. Esse tecido de nome
estranho é a camada interna do útero, que se renova mensalmente - pela
menstruação - e tem a responsabilidade de preparar o órgão para receber um
futuro bebê. Sem a gravidez, o tecido descama e a mulher sangra.
Mas, por razões ainda desconhecidas, ele pode pegar
outro rumo e se fixar nos ovários, trompas, intestino, bexiga, abdômen e até
parar nos pulmões. “Não temos a explicação do que causa. Essa é uma doença das
teorias”, observa a ginecologista e obstetra Maria da Guia Medeiros, diretora
médica da Maternidade-Escola Januário Cicco.
Os fatores que dão origem ao problema ainda são
discutidos pelos médicos. Uma das teorias - “a mais aceita”, observa a
ginecologista - é a da menstruação retrógrada de que durante a menstruação as
células do endométrio que deveriam ser expelidas pela vagina retornam às
trompas e quando caem dentro do abdômen se instalam em qualquer órgão.
Mas acredita-se também estar ligado ao sistema imunológico da paciente. “O
organismo de algumas mulheres não conseguem destruir essas células do
endométrio”, analisa Maria da Guia.
Exames de imagem, como ultrassom, videolaparoscopia
e ressonância magnéticas são necessários para confirmar a existência da doença
e definir a forma de tratar, que em geral leva em média até 10 anos de
sofrimento para que a dor extrema comece a ser investigada. A doença pode
ocorrer em qualquer momento da fase fértil, da primeira até a última
menstruação. Contudo, a quase totalidade dos casos ainda são descobertos
somente a partir da dificuldade de engravidar.
A administradora de empresa Adriana Silva, de 43
anos, passou quase 20 anos até receber a confirmação. Já em estágio avançado,
com formação de tecido em diversos órgãos e cistos, ela foi obrigada a abrir
mão do sonho da gestação e teve que ser submetida a uma histerectomia. “Sempre
quis ser mãe, mas somente com a retirada do útero ganhei qualidade de vida”,
conta ela que se prepara para adotar o primeiro filho.
Sem cura, o controle é feito por meio de
medicamento oral, uso de anticoncepcionais ou mesmo cirurgia para remoção dos
focos da doença.
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