terça-feira, 19 de agosto de 2014

MARINA SOBE, MAS DILMA E AÉCIO NÃO CAEM

Como já se podia prever, a primeira pesquisa pós-tragédia mostra um crescimento do PSB, com Marina Silva em lugar de Eduardo Campos. A surpresa foi outra: Dilma Rousseff e Aécio Neves não perderam nenhum voto, ficando exatamente onde estavam na pesquisa anterior.

Politicologos, pesquisólogos, futurólogos e profetas em geral, passaram os últimos dias especulando sobre quem perderia mais votos para Marina, se Dilma ou Aécio. Pois erraram todos, como mostra a pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira. Por isso, acho melhor fazer previsões só depois do fato consumado, como ensinava Marco Maciel, velho sábio pernambucano.

Eduardo Campos tinha 8% na última pesquisa e Marina Silva surge agora com 21%, um vigoroso crescimento de 13 pontos percentuais para o candidato da chamada "terceira via". De onde vieram então estes votos?

É só fazer algumas contas bem simples.

Em julho, o contingente de eleitores sem candidato que votariam em branco ou nulo era de 13%; não sabiam quem escolher eram 13% e aqueles dispostos a sufragar candidatos nanicos chegavam a 8%. Somando tudo, dava 35% de eleitores que não votariam em Dilma, Aécio e Eduardo.

Agora, a soma deste contingente de eleitores é de 22%: 9% ainda não sabem; 8% preferem votar branco ou nulo e apenas 5% em nanicos.

A diferença entre uma pesquisa e outra é de 13 pontos percentuais, portanto ou seja, exatamente o total de intenções de voto (21%) que Marina tem a mais do que Eduardo Campos registrava (8%), às vésperas do início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão, que começa amanhã.

Claro que a tragédia aérea em que o presidenciável do PSB morreu na quarta-feira passada deve ter forte influência nestes números que provocam uma reviravolta no quadro sucessório, mas há outros motivos a se levar em conta.

Assim como acontece com os acidentes aéreos, mudanças bruscas de rota são causadas por um conjunto de fatores, e não um só. Neste caso, não podemos esquecer o "recall" de Marina Silva, que teve 19% dos votos no primeiro turno da eleição presidencial de 2010, depois de trocar o PT pelo PV para ser candidata, apenas dois a menos do que nesta pesquisa de agosto de 2014, a 47 dias da eleição.

A entrada de Marina na campanha como candidata a presidente ungida pela família Campos e pelo PSB também não foi surpresa para ninguém, como já havia antecipado aqui na última sexta-feira (ver post).

Além disso, Marina tinha 27% das intenções de voto em abril, na última vez em que seu nome apareceu na lista de candidatos nas pesquisas, antes da oficialização da chapa do PSB encabeçada por Eduardo, com a ex-senadora no papel de vice.

A troca do presidenciável do PSB, da forma trágica como aconteceu, foi um fato tão inesperado que torna agora mais difícil o trabalho dos analistas do futuro, mas não deve ser atribuída à "providência divina", como fez Marina Silva na sexta-feira.

Na verdade, ela não embarcou no voo fatídico de Eduardo porque não queria se encontrar com o correligionário Márcio França para evitar constrangimentos. Márcio era o responsável pela agenda daquele dia na Baixada Santista, seu principal reduto eleitoral, e pela aliança do PSB com o PSDB em São Paulo, o que lhe garantiu o lugar de vice na chapa do governador Geraldo Alckmin.

Administrar agora estas alianças heterodoxas firmadas por Eduardo contra a vontade de Marina — no Rio, por exemplo, o PSB apoia Lindberg Farias, do PT, para governador - é agora um dos primeiros desafios de Marina, que pode crescer ainda mais nas próximas pesquisas, diante do clima emotivo que tomou conta da campanha após os comoventes funerais de Eduardo Campos, no Recife, que duraram todo o domingo, e deram à candidata do PSB o protagonismo na mídia.

Neste primeiro momento, Marina já aparece um ponto à frente de Aécio (21% a 20%), no primeiro turno, e com uma vantagem de quatro pontos sobre Dilma (47% a 43%) num agora quase inevitável segundo turno. Se acontecer, e o adversário de Dilma for Aécio, a presidente derrotaria o tucano por 47% a 38%.

Ao mesmo tempo, uma informação que passou meio escondida nas análises da pesquisa, mas pode influir nas próximas, mostrou o crescimento de 6% nos índices de aprovação do governo Dilma, que passaram de 32% de ótimo e bom, em julho, para 38%, agora, enquanto a avaliação de ruim e péssimo registrava uma queda também de 6% (caiu de 29% para 23%).

Muita calma nesta hora. Melhor é esperar a poeira assentar e avaliar a repercussão dos primeiros programas dos candidatos na televisão, em que Dilma tem o dobro do tempo dos seus dois adversários somados. A próxima pesquisa do Ibope só está prevista para setembro.

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